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Yoga no Brasil, como começou?

Atualizado: 18 de jun. de 2023

A historiografia do Yoga no Brasil é relativamente recente, tem pouco mais de 100 anos. Contudo, como não houve uma transmissão linear de Mestre a Discípulo, segundo a tradição indiana e, sim, pelo surgimento de movimentos modestos, isolados, cuja formação de professores ocorreu de uma forma, diga-se, holística e auto didata, integrando literaturas diversas cuja fidelidade ao Yoga antigo da Índia era bastante duvidosa, por conta de traduções não fidedignas a cultura sânscrita (berço original do Yoga), a história do Yoga brasileiro é um tanto controversa e obscura. Em meu trabalho de pesquisa, encontrei poucas referências bibliográficas e confiáveis sobre a verdadeira história do Yoga no Brasil, sem a interferência tendenciosa de “estilos” ou grupos específicos. Ainda assim, creio, por mais sincero que seja a iniciativa deste texto em seu teor de pesquisa, posso ter errado em deixar de fora importantes nomes na história do Yoga nacional, que por motivos diversos foram pouco conhecidos, não deixando, infelizmente, referências que pudessem ser acessadas no presente com facilidade, precisando obviamente, de um minucioso e profundo trabalho de pesquisa histórica sobre o tema. Todavia registro aqui minha sincera gratidão, devoção e respeito a todos que contribuíram, anonimamente, com a história do Yoga no Brasil.

Sêvánanda Swami | O precursor do Yoga no Brasil Sêvánanda Swami, o possível precursor do Yoga nacional. Podemos registrar, segundo fontes literárias, a introdução do Yoga no Brasil pela ação de um francês chamado Léo Costet de Mascheville, que começou a organizar, em 1947, num regime monástico, o primeiro grupo de estudos de um tipo de Yoga, criado por ele, denominado Sarva Yoga. Esse francês ficou conhecido no Brasil pelo nome iniciático Sêvánanda Swami. Ele utilizava o termo Swami no final do nome, o que indicava que não se tratava de um monge hindu (significado da palavra Swami), mas que usava essa palavra como uma espécie de sobrenome, muitas vezes, confundindo os leigos no assunto. Em geral, esses mesmos leigos se referiam a ele como “Swami” Sêvánanda (um equívoco de tratamento), pois um dos mais importantes Mestres contemporâneos de Yoga, que viveu na mesma época, chamava--se Swami Sivánanda (lê-se Shivaananda). Esse monge era um médico e yogi que fundou uma importante ashram (mosteiro) em Rishikeshi, Índia, na fronteira com os Himalayas. Não temos muitas informações precisas sobre Sêvánanda Swami, ele não fez muita questão de deixar detalhes de sua obra para a posteridade, porém, talvez, seu maior feito como divulgador do Yoga foi a criação de um grupo permanente de Yoga em Lages (SC) quando, em 1953, ganhou um terreno de 12 hectares em Resende (Rio de Janeiro), onde, ajudado por sua esposa, Sadhana, seu discípulo Sarvananda (George Kritikós) e Vayuãnanda (Ovidio Juan Carlos Trotta) fundou um centro esotérico denominado Amo-Pax, um ashram de Sarva Yoga e um Mosteiro Essênio. Segundo relatos, Sêvánada Swami era um líder natural bastante carismático, e com ele aprenderam Yoga praticamente todos os professores mais antigos e conhecidos do Brasil. Esses são alguns dos veteranos que estudaram com Sêvánanda Swami entre as décadas de 1950 e 1960: Zenaide de Castro (Lajes-SC), Dalva Arruda (Florianópolis-SC), Guilherme Wirz (São Paulo - SP), Carlos Totra (Rio de Janeiro - RJ), Georg Kritikós (Belo Horizonte - MG) entre outros. Mas por algum motivo, no final de sua vida, Sêvánanda Swami deixa de se dedicar ao Yoga e passa a fazer Reiki (técnica japonesa de transição de energia por imposição das mãos). E, infelizmente, Sêvánanda Swami sobreviveu em seus últimos dias como vendedor de seguros, tendo somente uma única discípula ao seu lado até sua morte. Morreu sozinho e empobrecido. Enterrado em Belo Horizonte, Minas Gerais, foi esquecido e, hoje em dia, quase ninguém se lembra do trabalho missionário e pioneiro que este importante personagem fez pelo Yoga no Brasil. Que fique registrado, neste singelo texto, meu respeito e agradecimento à obra de Sêvánanda Swami.

Caio Miranda | O pioneiro a escrever livros de Yoga no Brasil


Caio Miranda, o primeiro escritor sobre Yoga no Brasil Há alguns trechos polêmicos na história deste personagem no Yoga nacional, por exemplo, quem começou a ensinar esta filosofia no país, Sêvánanda ou Caio Miranda? Pelo que pude constatar em registros literários, de obras publicadas no Brasil entre as décadas de 1940, 1950 e 1960, parece-me comum concordar que foi o general do Exército Brasileiro Caio Miranda quem escreveu o primeiro livro de Yoga, e não o primeiro a ensinar esta filosofia no Brasil. Também foi ele quem começou a ensinar Yoga em academias de ginástica como trabalho profissional. Caio Miranda, pelo que constatamos, não teve um professor ou mestre direto de Yoga, como encontramos nos modelos atuais na maioria das escolas de Yoga no mundo. Ele começou a ensinar Hatha Yoga por volta de 1949 em sua residência, na cidade do Rio de Janeiro, chegou a fundar cerca de vinte institutos ou escolas de Yoga por diversas cidades brasileiras. Em 1960 publicou a primeira edição do livro “Libertação pelo Yoga”; este livro fez grande sucesso esgotando-se rapidamente das livrarias nas primeiras semanas, superando em número de vendas tudo que havia na produção editorial nacional. Então, a Livraria Freitas Bastos publicou, em 1963, a terceira edição, corrigida e melhorada pelo autor. Esta obra foi divulgada por todo o mundo, sendo traduzida para 12 diferentes idiomas. Com esse “best-seller”, Caio Miranda é apontado como uma das maiores autoridades em Yoga no Ocidente. A publicação do livro Hatha-Yoga: a Ciência da saúde perfeita veio estimular à formação de cursos de Yoga no Brasil e na América do Sul. Com a fundação do Instituto de Yoga do Rio de Janeiro. Caio Miranda teve uma bibliografia bastante diversificada, podemos observar logo a seguir as principais obras que ele publicou: A Libertação pelo Yoga (Raja Yoga); Hatha-Yoga: a ciência da saúde perfeita; Só envelhece quem quer; Assim Ouvi do Mestre; Vence Tua Angústia com Laya-Yoga; O ABC do Yoga; Yogins e Mistificadores; Kundalini: o fogo serpentino; Bhakti-Yoga; Jnana-Yoga; Karma-Yoga; Os problemas do EU; Mundo sem Paixão; e Dicionário Enciclopédico de Yoga. É interessante perceber que o General Caio Miranda teve sua carreira marcada como escritor e professor de Yoga por cerca de duas décadas apenas, pois em 1969 ele veio a falecer por infarto. Tanto Sêvánanda Swami quanto Caio Miranda foram, após a morte, seriamente perseguidos e por que não dizer, incompreendidos. É verdade que muito do que fizeram ou publicaram não refletia a verdade do Yoga tal como ela é, porém, contribuiu muito para que essa filosofia prática de vida ganhasse força e expressão em todo o Brasil. E hoje, muito do que podemos acessar na prática do Yoga teve sua inegável origem a partir desses dois importantes personagens na recente história do Yoga no Brasil, que ainda está sendo construída.

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